"Doutor, será que você pode me atender?"
Não gosto quando estou atendendo um paciente e outro vem me interromper, porque me concentro em dar bastante atenção à pessoa. Por isso, na hora pedi para que a mulher esperasse eu terminar de atender e nem cheguei a lhe dar muita atenção. Mas ela não desistiu e disse:
"Mas doutor... É que eu estou sem meu dedo"
Aquilo foi o suficiente para eu deixar de lado o homem, que estava sem problema algum, e fosse ver o que havia acontecido com ela. E só então eu me dei conta que, na verdade, não era uma mulher, e sim um travesti. Continuei tratando como "senhora", porque ela própria disse preferir assim.
De fato, estava sem parte de um dos dedos. Vinha com a mão dentro de um saco cheio de gelo e, assim que eu me aproximei, tirou de dentro para eu ver. Metade do dedo indicador havia sido arrancado, ficando só o osso fraturado exposto para fora na pontinha que continuou na mão.
Entrei em contato com o ortopedista para que a atendesse e tentasse resolver a situação. Questionei que acidente havia provocado aquilo. Então explicou: ela era garota de programa e, durante uma briga com outra, apontou o dedo para a rival, que prontamente pulou e lhe mordeu o dedo até arrancar da mão.
No pós-operatório, fui conversar com ela para explicar a situação. Ela aceitou bem e, chorosa, explicou que mentira para mim. De fato, o dedo havia sido arrancado por mordidas de outra travesti, mas na verdade aquela era sua melhor amiga, que havia lhe roubado um rapaz que era ótimo cliente, por quem a vítima era apaixonada. Ela finalizou dizendo:
"Ela já me roubou dinheiro, cliente, o namorado e agora tomou até meu dedo"
Naquele momento, eu vi que não tinha mais nada para falar que pudesse diminuir seu sofrimento. Dei meu apoio e preferi deixá-la absorver sua angústia até estar forte outra vez para seguir em frente.
MULHERES é uma música de Martinho da Vila
Poxa vida! Fiquei chocado, como a vida pode ser difícil...
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