
A dor foi imensa. O garoto procurou formas de se livrar daquele sofrimento: bebeu muito, experimentou maconha, tragou cigarros. Passou noites em claro, na rua, usando qualquer desculpa para não voltar para casa e ver a o lado vazio da cama dos pais. Acabou que sua melhor fuga foi o trabalho. Tornou-se um soldado honroso, trabalhando sem descanso em prol da pátria.
Pensava na mãe em cada manhã e cada noite, e era a força do amor que ele e o pai sentiam, e que recebiam de alguma forma em troca, que lhe dava disposição para seguir adiante. Para buscar sempre o melhor de si e das pessoas. Não se deixou perder em vícios ou medos.
Numa tarde comum, após um acesso de tosse, seu pai cuspiu sangue. Procuraram a emergência onde eu trabalhava, e ali se suspeitou de tuberculose. O pai não tinha tanta tosse, nem tanta febre, mas a primeira coisa que todos imaginaram por conta da história, do raio X, da carga imensa de cigarros que o homem fumara. Ele realizou vários exames, e ao final percebemos que ele felizmente não tinha tuberculose.
Mas antes tivesse. Depois de uma tomografia e uma biópsia, nos demos conta que o que estava reservado para aquele pai era muito pior. E o que estava reservado para aquele garoto era muito mais doloroso. O pai também estava com câncer de pulmão, assim como a mãe tivera.
Difícil seria para aquele garoto de menos de 20 anos entender como uma coisa tão pequena, tão frágil, como o cigarro, poderia ser um assassino tão silencioso para sua família.
CACHIMBO DA PAZ é uma música de Gabriel, o Pensador
Perfeito o texto. Amei ;D Felipe Artur
ResponderExcluirEu li alguns dos seus textos e so tenho uma coisa para dizer: parabéns!!! Vc se mostra incrível tanto com as palavras qnto com suas atitudes médicas!!
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