terça-feira, 30 de agosto de 2011

PRA DIZER ADEUS

Um paciente estava internado na UTI há quase oito semanas, por conta de uma infecção respiratória, que o obrigou inclusive a ficar intubado por 20 dias, sendo depois feita traqueostomia (colocar um tubo na garganta por meio do pescoço). Ele pegava infecção atrás de infecção, cada vez combatendo e vencendo, mas adquirindo outra logo após, até um ponto em que seu corpo começou a ceder.

Ele estava tão abatido por conta da doença, que nem tinha forças para falar ou respirar direito, sendo mantido sedado com medicações. E, embora a sedação não fosse tão forte, ele continuava sonolento, sem fazer contato com ninguém, como se estivesse em coma. A família já estava desesperançosa de sequer se despedir antes que o homem pudesse partir.

Certa tarde em que eu estava de plantão na UTI, a filha dele me contou sobre como o pai era forte, o quanto havia lutado na vida para formar os cinco filhos (ela, por exemplo, é advogada), mesmo sendo um homem que nasceu no sertão. Então, levou para que eu visse uma homenagem que os filhos e a mãe haviam feito para ele alguns meses antes, quando ainda estava completamente são.

O texto está na imagem, em anexo. Era um poema de Mário Quintana, que os filhos haviam colocado num formato bonito para homenageá-lo em vida. A advogada me contou, com um sorriso triste, que, sem sentimentos como era, o pai nem deu tanta atenção àquela homenagem. Mas significava muito para ela e os irmãos.

De fato, o poema era bonito. Após o horário da visita, quando tudo na UTI estava tranquilo, fui até o leito daquele paciente. Falei a ele, mesmo sem ter retorno algum, sobre a homenagem que a filha havia feito. Disse que ela tinha me dado o texto, então reli o poema que algum dia ele havia conhecido.

Uns 30 minutos depois, voltei ao leito para reavaliá-lo. Minha surpresa maior foi encontrar lágrimas em suas pálpebras. No dia seguinte, o paciente estava tão bem, que conseguimos tirá-lo do aparelho de ventilação mecânica. Como ele estava respirando sozinho, foi possível tirar a sedação por completo.

Na hora da visita, a família o encontrou sem sedação, respirando sozinho e, o que era incrível, ele estava ligeiramente acordado. Conseguiu até responder a perguntas dos familiares balançando a cabeça, olhou cada filho e esposa, e ainda esboçou um sorriso. Disse pra mim que estava bem e não sentia dor alguma.

Três dias após, o paciente infelizmente faleceu. Durante a noite, do nada, seu coração foi desacelerando até parar por completo. Depois de tanta luta, depois de tanto sofrimento, de certa forma ele descansou.

Existe uma lenda na medicina que diz que um paciente tem uma melhora importante dias antes de falecer. Alguns chamam isso de "melhora da morte". Outros acreditam que é uma forma de se despedir desse mundo. Qual seja a razão para tal, ao menos esse meu paciente teve a chance de ouvir da família o quanto o amavam por uma última vez.


PRA DIZER ADEUS é uma música de Titãs

9 comentários:

  1. Que lindo o texto Elton, não sabia que vc escrevia, e tampouco possuía esse blog! :D

    Lina a história, vc tem jeito pra contos e crônicas!rs

    Conheço essa melhora do paciente como sendo a "visita da saúde" ;)

    Sempre escreva, faz bem pra alma...
    Abraços...

    Rodrigo Porto

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  2. Nossa... me emocionei, de verdade.

    Elton, faz um favor? Reúna os seus relatos médicos em um livro.

    Obrigada por compartilhar conosco.

    Um beijo

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  3. Texto lindo... estória linda!
    PARABÉNS PELO BLOG

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  4. Dou apoio para a criação do livro! =D

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  5. Gostei muito do texto. Um relato assim nos leva à reflexão, valorização da vida e daqueles que nos amam. Normalmente não os reconhecemos como deveríamos, seja por orgulho ou ainda desleixo que o estresse do dia a dia ocasiona. Vale a pena rever nossas prioridades...

    Eu também defendo a idéia do livro =). Você é muito bom!

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  6. Sobre a “melhora da morte”, gostaria de trazer para vocês um pouco da visão espírita.

    Por mais que tenhamos consciência de que a morte virá indistintamente para todos, é difícil aceitá-la. Quando se aproxima a passagem de um espírito que nos é caro, os sentimentos de perda, de apego, e, não raras vezes, de muita angústia, inconformismo e desespero, produzem fluidos vibratórios negativos.

    Esses fios vibratórios emitidos involuntariamente funcionam como uma espécie de teia que “prende” o espírito em processo de desencarne. Dá-se involuntariamente e não é capaz de evitar a morte.

    Diante disso, os espíritos amigos (desencarnados), que auxiliam o processo de transição, passam a emitir vibrações positivas poderosas em favor do doente, proporcionando-lhe uma recuperação momentânea da saúde física. A ação desses espíritos benfeitores geralmente acontece à noite e durante a madrugada, ocasião em que os familiares geralmente estão em repouso.

    Após a melhora, os familiares ficam mais reconfortados e, conseqüentemente, param de emitir aqueles fluidos, permitindo o desencarne.

    O desencarne, enfim, acontece em paz.

    A “melhora da morte”, em verdade, é mais uma manifestação do amor de Deus e da atuação incessante dos espíritos iluminados que diuturnamente nos amparam e auxiliam por serviço à Providência.

    Deus nos abençoe sempre mais!

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  7. Que história linda Elton! E também adorei saber da visão espírita sobre a "melhora da morte"...adorei os dois textos.

    beijoca e apoio no livro ;)

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  8. Chorei, passei por isso em minha família duas vzs, falo sobre a "melhora da morte", que de lenda não tem nada.Que bom que esse pai morreu sabendo do amor dos filhos .

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  9. Simplesmente lindo,coisa de Deus.Eu apoio seu livro!

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