Fui avaliá-lo. Embora estivesse estável, percebi que o paciente não evoluía completamente bem. Ele tinha uma provável pneumonia e, por conta dela, sua respiração estava ligeiramente acelerada. Fiz alguns cuidados iniciais, e logo avisei à enfermeira que iríamos transferi-lo para um hospital onde pudesse ser internado. Não demorou para que conseguíssemos uma vaga em um ótimo serviço de Olinda, e ficou certo que, tão logo a ambulância chegasse, nós o transferiríamos.
Continuei atendendo normalmente os outros pacientes da emergência. Após algum tempo, um senhor de meia idade pediu para falar comigo. Fui conversar com ele, e uma mulher mais nova, que se disseram filhos do idoso do leito 1. Eles explicaram que o hospital para o qual mandaríamos seu pai era distante de onde moravam, e que preferiam que o idoso fosse para casa, a ser internado lá. Pediram que eu internasse no hospital onde trabalho.
Expliquei à família que aquele hospital não fazia internamento à noite, portanto não teria como deixar o idoso ali. Então, o filho me pediu que liberasse o pai, e ele voltaria pela manhã para tentar ser internado se não estivesse melhor. Avisei ao homem dos riscos: o pai era idoso, estava com uma infecção respiratória que poderia se tornar grave se não recebesse os devidos cuidados. Mesmo com toda minha explicação, o filho estava reticente, enquanto a filha compreendeu o perigo de mandar o pai para casa.
Mesmo com o filho exigindo que liberasse o pai, eu fui firme: não deixaria o idoso sair do hospital, se não fosse para ser internado em algum lugar. Outros acompanhantes e a própria irmã conversaram com o homem, e ele acabou por aceitar o fato. Em menos de uma hora, conseguimos que a ambulância transferisse o idoso para o hospital maior, com um documento que eu escrevi ao médico de lá explicando a transferência.
Na semana seguinte, eu estava no meu rotineiro plantão no mesmo hospital, quando o porteiro bateu à porta do consultório e me avisou que um homem estava à minha procura. Assim que o paciente sendo atendido saiu, o homem entrou. Era o filho do idoso da semana anterior.
Logo quando sentou, nervoso, entristecido, ele me contou que o pai tinha falecido. Explicou que o pai foi para o hospital, onde se internou, mas veio a falecer no início da tarde seguinte. Mesmo com todos os cuidados, a infecção se agravou, como eu havia explicado a ele, e o pai não resistiu.
Ele passou em torno de dez minutos sentado à minha frente, desabafando. Não queria nada além disso: contar o que havia acontecido com o pai. Explicou que o pai era um homem forte, que lutara muito para criar ele e a irmã. Explicou a dificuldade que foi em pagar o caixão do pai, e que em dois anos teriam de tirar os ossos dele de lá e arranjar um jazigo. Mostrou o belo santinho que fizeram para a missa de sétimo dia dele.
Depois de toda a conversa, ele se levantou, agradeceu tudo que o hospital fez e pediu desculpas por tomar meu tempo de atendimento. Antes de sair, pegou um papel no bolso, desembrulhou e mostrou: era o documento da transferência que eu havia preenchido. Então, ele perguntou:
"Gostaria de ficar com alguma coisa pra lembrar de meu pai. Posso colocar esse papel num vidro pra pendurar na parede de casa?"
Sem acreditar, e até emocionado, eu obviamente deixei. Antes de ele sair, abracei o homem, pedi que rezasse sempre pelo pai. Ele se despediu e foi embora. Nesses momentos, difícil é você se concentrar depois para continuar atendendo...
PAI é uma música de Fábio Júnior
Nossa, D.Elton é muito triste, está à frente de certas cituações asvezes não sabemos nem o que fala. mas você e muito querido justamente pela sua dedicação, carinho com seos pacientes... sempre recebemos pessoas lhe procurando no plantão diurno - o D. Elton se encontra ,quele médico é otimo. são as plavras dos pacientes. parabéns e continue sendo essa pessoa simples e amorosa. eu sou sua fã kkk
ResponderExcluirDr Elton ,suas historias são mto bem relatadas e transmitem emocao e sentimentos,me agrada muito ler seus textos,queria poder ser tratada com o Sr.
ResponderExcluirUm forte abraco!